Digital Opinião

Parece eSport, mas não é.

10 abril, 2020
Parece eSport, mas não é.

 

Todos torneios ou partidas online de video game podem ser considerados eSports para as apostas esportivas?

Não, não podem, mas vamos a explicação.

Vamos começar por contextualizar o atual momento do mercado das apostas esportivas e dos eSports, ok?

Fenômeno mundial!

Afinal, já são algumas semanas sem eventos esportivos reais devido a pandemia do coronavírus. Na Europa, a Euro foi adiada para 2021, Wimbledon foi cancelado e a Champions League não tem data exata para voltar. Sem falar que os Jogos Olímpicos de verão também foram adiados para 2021.

Com isso, o prejuízo para as Operadoras de Apostas esportivas, principalmente para aquelas que não possuem em seus portifólios a vertical do Cassino online, beira os 100%.

Nesse momento de crise, é preciso se reinventar, daí os eSports aparecem como principal substituto para os eventos reais.

Nos EUA vemos Nevada, Estado de Las Vegas, incluir a eNascar e o CS:GO como modalidades para apostas. Cada vez mais operadoras incluem em seus sportbooks ofertas para as principais modalidades deste universo gaming.

Daí volto a pergunta lá do começo: será que todos os jogos eletrônicos podem ser considerados eSports para efeitos de apostas?

É uma pergunta complicada, mas na minha opinião, nem tudo pode ser classificado como eSports. Pelo menos para serem incluídos em um sportbook.

Vamos lá!

Passou de fase!

A explosão dos eSports não é algo do último mês, nem um movimento da moda ou tapa buraco para a atual crise.

Para se ter uma ideia, a indústria dos games já movimenta mais que a Hollywood. Apenas no último ano, movimentou mais de 150 bilhões de dólares no mundo segundo a Newzoo.

No Brasil, estima-se que tenha movimentado em torno de 2 bilhões de dólares em 2019 ficando atrás apenas do México nas Américas, claro, excluindo-se os EUA, e na 13ª posição a nível mundial.

Em audiência o Brasil é ainda mais forte, ficamos apenas atrás de China e Estados Unidos.

Por aqui temos o Prêmio eSports Brasil, com apoio de marcas como a Puma, o Banco do Brasil e a Domino´s, além da transmissão pelo SporTV. O Brasil tem alguns dos principais atletas do mundo em modalidades como CS:GO e LoL.

Por trás destas modalidades, temos Organizações, Federações e Confederações, nacionais e internacionais. Essa estrutura garante, pelo menos o aceitável, que a integridade e a fidelidade dos resultados sejam garantidos.

 

E aqui vem a grande diferença.

No início de Abril foi criado um torneio de NBA2K, com os jogadores reais da NBA, encabeçado por Kevin Durant e Trae Young, com transmissão pela ESPN e uma premiação de 100K que seria doada a uma entidade de caridade para o combate ao COVID19. Muitas Operadoras colocaram ofertas em seus sportbooks para esse evento.

Só que o evento já havia acontecido e os resultados vazaram antes de ir ao ar pela ESPN. Resultado? Prejuízo para os bookies e evento cancelado. Pelo menos para as apostas.

Deu pra perceber a diferença entre um jogo de video game disputado por personalidades sem qualquer controle e o movimento mundial dos eSports em importância para o universo das apostas?

Não é possível chamar de eSports, para efeitos de apostas todo e qualquer evento de video game.

Até porque o conceito de vídeo game está longe de abrigar o significado dos eSports. Acaba por ser algo muito abstrato se comparado com o tamanho e importância de marcas como a Riot Games, criadora do League of Legends e da ESL Pro League, Organização que abriga as competições de Counter Strike, que conta com patrocínios da empresas de apostas esportivas e o apoio da gaming Malta.

É preciso diferenciar esses eventos avulsos, levados em Consoles como Xbox ou PS4, com famosos, influenciadores e etc. daqueles feitos realmente pelos profissionais deste segmento do entretenimento, onde existem milhões de fãs, equipes criadas especialmente para isso e com uma vida própria.

É claro que na ausência dos eventos reais, a criatividade dos sportbooks precisa ir no limite e aqui não é uma questão se devem ou não incluir esse tipo de aposta, mas sim como devem ser encaradas.

Com o tamanho do risco, a ausência de um controle ideal para proteger os bookies e os próprios apostadores, acredito que é preciso diferenciar os eSports daqueles produtos que aproveitam o momento para promover marcas e modalidades, mesmo com causas nobres por trás.

O momento dos eSports é fenomenal e acredito que eles serão capazes de atrair um público das apostas esportivas que não consumiam esse tipo de produto antes da crise do COVID19.

E o benefício será para os dois lados.

Após a volta dos eventos esportivos reais, esses novos usuários irão consumir mais dos eSports e terão descoberto um universo de novas possibilidades dentro do seu sportbook preferido.

Não sou quem você pensa que é

O que não pode acontecer, e isso é uma tarefa ainda maior para quem toma conta dos eSports, é que todo e qualquer evento possa ser considerado um evento passível de aposta e seja classificado como “eSport”. Isso porque, para as apostas esportivas, um evento ao ponto de ser inserido no sportbook deve ter o mínimo de garantia que seus resultados sejam desconhecidos até o fechamento do mercado e início da partida.

Claro, sem contar as bets ao vivo.

Aqui não é uma crítica, nem uma diferenciação entre os jogos em si dos “eSports”. É claro que torneios de NBA2K, FIFA, eNascar e tantos outros podem e devem fazer parte deste conceito e terem apostas criadas para seus eventos.

Até porque será através destas modalidade que o público das apostas esportivas e dos games irão se encontrar e iniciar a migração entre os dois mundos.

O que não se pode aceitar é que todo e qualquer evento dos games possa ser passível de ser considerado como viável para apostas esportivas.

É preciso diferenciar, sim.

Afinal, nem todo jogo de video game pode ser tratado como eSport, pelo menos no mundo das bets.